Eu te odeio
Isso não podia ser dito assim. Ela disse como quem não quer nada, mas no fundo ela queria que ele morresse de ciúmes. Talvez por ser algo raro: ela nunca tinha dito isso antes, talvez por pura vaidade. No fundo, ele morreu de ciúmes, mas também por vaidade ou coisa parecida, não retrucou, na verdade nem disse nada: apenas riu. Isso fez com que ela morresse por dentro, por alguma fração de segundos se sentisse despedaçada, por baixo da camada mais baixa que existe, por debaixo dos pés dele. Ele a fez sentir assim, e na verdade, nem foi a primeira vez. Lembrou-se de quando, naquela rua estreita, ela havia pedido sua ajuda para atravessar a rua, fora um pretexto pra pegar na sua mão, e ele perguntou se ela não era boa o bastante para fazê-lo sozinha. Como naquela noite, e mais uma vez, agora, ela se sentia a coisa mais inútil da face da terra, ali, bem na frente dele, ou, por baixo dele. Ele nem se comoveu, no fundo, ardia em febre, sentia raiva até da cor de seu cabelo, que até ontem achara o mais lindo de todos. Aquele sorriso bobo, mais uma vez ia enlouquecê-lo, e antes que o fizesse, ele preferiu se retirar, com ela pensando que ele era um insensível, e ele, sendo um insensível de fato.
Eu te amo