quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sobre a vontade de comer o mundo numa mordida só pt. 2

Rolê sangue-juvenil com faíscas no coração de todo mundo e esses sonhos que tem revirado minha cabeça-quase-bichada-não-fossem-esses-sonhos.
E eu fixada nisso tudo. Não fosse isso era a saliva do mesmo gosto de todo-dia escorrendo pela minha boca enquanto tiro a décima quinta pestana do dia no sofá da sala que gruda na minha pele quando eu acordo.
todo mundo tem seus deuses. todo mundo mede o mundo com a sua própria régua. eu nego, nego mas faço isso todos os dias. e existe aí algum tipo de sentimento de superioridade.
a gente vive sob essa aura, de gozar escondido, sob essa ditadura do desempenho, trepando como se tivesse em uma linha de produção, posições, músicas pra tirar a roupa, velas, luzes, fumacinha, espelho no teto, tudo isso sufocando o que há de mais sincero. é o que eu acho.
e cada um sai por aí vomitando seus méritos, que certamente tiveram início em algum privilégio.
e essa meritocracia podre tem atingido tudo e todos, sem exceção, das coisas mais sinceras às mais medíocres profissões.
e todo mundo tem seus deuses, e reza e pede pra eles todas as noites antes de dormir.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Eu devoro o mundo com os olhos

Fazia um tempo quente e minha cabeça funcionava bem confusa pelos últimos acontecimentos. Eu queria tudo aquilo pra mim. Mas eu não sabia bem onde eu tava pisando nem pra onde eu tava indo. Minha fome era a de devorar o mundo e toda aquela coisa que vem junto dele quando você mastiga com vontade. Eu devorava com os olhos. Curiosa e desconfiada. E você percebeu que eu tava ali e eu nem consegui esconder essa minha vontade de ser e fazer parte de tudo aquilo que eu nem bem sabia o que era. Já me disseram que tem tipo uma vida dentro dos meus olhos.
Depois disso veio tudo, parecia que aquele mar ia me engolir mas eu queria tanto me encharcar, engolir o sal e cuspir tudo que fosse ruim e tudo aquilo que eu tinha sido até então. Eu queria com tanta força. Eu sentia medo, dor de barriga, minhas mãos não conseguiam disfarçar, pelo gelo e por aquele suor que pingava e eu tinha uma expressão certamente assustada e eu queria muito mas eu era tão verde. Pra mim parece que alguns anos passaram. Chorei com sinceridade um certo número de vezes mas as lágrimas sempre se misturam com um pouco de sangue por tudo aquilo que eu arranquei à força de mim e um pouco de gozo que é recente e limpo. E é libertador ver o quanto tudo cicatriza meio rápido demais e quando você vê o sangue já secou e o que jorra agora é uma coisa bem nova que mistura todas as cores e sabores que meus olhos gostam de ver. Eu hoje acho que eu posso ser o que eu quiser. Enquanto eu puder levantar. Enquanto minhas pernas obedecerem. Enquanto eu puder andar com os meus próprios sonhos. E parece que você sempre me admira, embora eu me ache sempre meio pequena demais. E agora tudo me cheira bem, como um lar. Um cheiro bom de coisa que anuncia um tempo quente de novo.
Continuamos querendo ser vários de nós.